Pessoas com doenças crônicas do fígado (hepatopatias)
Por que o cuidado especial?
As doenças crônicas do fígado (hepatopatias) representam um sério problema de saúde pública. Entre suas múltiplas causas, as principais são: infecção pelos vírus das hepatites B e C e hepatite causada pelo consumo excessivo de álcool. As formas crônicas, que evoluem ao longo do tempo, podem levar à cirrose e à necessidade de transplante de fígado.
O cuidado com pessoas nessas condições deve incluir a vacinação, uma vez que as infecções podem ser mais graves ou ainda descompensar ou agravar o quadro clínico. Em relação às infecções virais hepáticas, que lesariam ainda mais o fígado, e às infecções respiratórias (gripe e pneumonia pneumocócica), a atenção precisa ser redobrada. Confira algumas informações que reforçam a importância da vacinação.
- Influenza (gripe)
- A influenza (gripe) é uma infecção potencialmente grave, sobretudo para pessoas com doenças crônicas. No Brasil, cerca de 70% das mortes pela doença ocorrem em indivíduos pertencentes aos grupos de risco.
- Pneumonia pneumocócica
- Causadas pela bactéria pneumococo, a pneumonia e as doenças pneumocócicas invasivas (como meningite ou infecção generalizada/septicemia) – formas mais graves da infecção e que frequentemente levam à hospitalização ou à morte – são fontes de importante preocupação para as pessoas com hepatopatias crônicas, sobretudo para aquelas com hepatopatia alcoólica. Nesses casos, o risco de doença invasiva é cerca de 11 vezes maior do que no restante da população.
- Hepatites A e B
- Causadas por vírus, as hepatites A e B podem aumentar consideravelmente o risco de consequências graves em pessoas que já têm hepatopatias crônicas. Se a doença prévia é decorrente de hepatite B ou C, a infecção não raramente favorece a progressão da doença hepática e a evolução para cirrose e câncer do fígado.
Vacinas especialmente recomendadas
As recomendações a seguir destinam-se a pessoas com hepatopatia crônica sem imunodepressão ou outras doenças crônicas. Na presença de condições adicionais, principalmente as associadas à imunodepressão, ou caso seja candidato a transplante ou transplantado, consulte os calendários de vacinação específicos para o seu estado clínico, também na seção Vacinação de pacientes especiais.
Influenza (gripe)
A vacina influenza quadrivalente (4V) é preferível à vacina influenza trivalente (3V) por proteger contra mais tipos do vírus responsável pela doença. Na impossibilidade de uso da vacina 4V, utilizar a vacina 3V.
Esquema de doses
- Para crianças que iniciam a vacinação entre 6 meses e 8 anos de idade: duas doses, com intervalo de 30 dias, e uma dose nos anos seguintes;
- A partir de 9 anos: uma dose anual;
- Observações:
- Devido à resposta imunológica inferior e menos duradoura conferida pelas vacinas influenza a idosos e pacientes imunodeprimidos, a administração de uma dose extra a partir de três meses após a dose anual pode ser considerada em situação epidemiológica de risco;
- Para pacientes a partir de 60 anos, avaliar a utilização da vacina influenza quadrivalente com mais altas doses de antígenos (“high dose” - 4VHD), que permite maior proteção.
Onde se vacinar
- Vacina influenza trivalente (3V): UBS, CRIE e serviços privados de vacinação;
- Vacina influenza quadrivalente (4V): serviços privados de vacinação;
- Vacina influenza quadrivalente “high dose“ (4VHD): serviços privados de vacinação.
Vacinas pneumocócicas: conjugadas (VPC10 e VPC13) e polissacarídica (VPP23)
Para a proteção adequada de pessoas com doença hepática crônica, recomenda-se o esquema com dois tipos de vacinas pneumocócicas, complementares e não excludentes: iniciando com uma vacina conjugada (VPC10 ou VPC13), seguida da vacina polissacarídica (VPP23).
A SBIm recomenda o uso preferencial da VPC13 para ampliar a proteção para mais três sorotipos adicionais, principalmente em pessoas de alto risco para doença pneumocócica invasiva, como os hepatopatas crônicos. Nas UBS e nos CRIE, a VPC10 é a vacina utilizada na rotina para crianças até menores 5 anos de idade, incluindo aquelas com comorbidades. Nos CRIE, a vacina VPC13 está disponível apenas para hepatopatas imunodeprimidos, ou seja, em tratamento com imunossupressores, candidatos a transplante de fígado ou transplantados.
A VPP23 está recomendada somente a partir dos 2 anos de idade, sempre em esquema complementar com as vacinas VPC10 ou VPC13.
Esquema de doses
O esquema depende da idade de início da vacinação.
Nas UBS e nos CRIE:
- Até completar 6 meses: três doses de VPC10, com intervalo de dois meses, e reforço no segundo ano de vida (esquema 3 + 1). As duas primeiras doses são oferecidas nas UBS, aos 2 e 4 meses, e a terceira nos CRIE, aos 6 meses, podendo ser feita até 11 meses e 29 dias. Uma dose de VPP23 deve ser administrada a partir dos 2 anos e uma segunda dose cinco anos após a primeira;
- Entre 7 e 11 meses: duas doses de VPC10, com intervalo de dois meses, e reforço no segundo ano de vida (esquema 2 + 1). Uma dose de VPP23 a partir dos 2 anos e uma segunda dose cinco anos depois;
- Entre 12 e 23 meses: duas doses de VPC10, com intervalo de dois meses, e uma dose de VPP23 dois meses depois. Uma segunda dose de VPP23 deve ser administrada cinco anos após a primeira;
- Entre 2 e 4 anos de idade: uma dose de VPC10 e uma dose de VPP23 dois meses depois. Uma segunda dose de VPP23 deve ser administrada cinco anos após a primeira;
- A partir de 5 anos de idade: duas doses de VPP23, com cinco anos de intervalo.
Recomendações SBIm
A SBIm recomenda para os hepatopatas a vacinação com VPC13 em todas as faixas etárias, mesmo para os que estão em dia com o calendário da VPC10. O número de doses e os intervalos dependem da idade de início da vacinação:
- Até 6 meses: três doses de VPC13, com intervalo de dois meses, e reforço no segundo ano de vida (esquema 3 + 1). Uma dose de VPP23 a partir dos 2 anos e uma segunda dose cinco anos após a primeira;
- Entre 7 e 11 meses: duas doses de VPC13. com intervalo de dois meses, e reforço no segundo ano de vida (esquema 2 + 1). Uma dose de VPP23 a partir dos 2 anos e uma segunda dose cinco anos depois;
- Entre 12 e 23 meses: duas doses, com intervalo de dois meses, e uma dose de VPP23 dois meses depois. Uma segunda dose de VPP23 deve ser aplicada cinco anos após a primeira;
- A partir de 2 anos de idade não vacinados anteriormente: uma dose de VPC13 e uma dose de VPP23 dois meses depois. Uma segunda dose de VPP23 deve ser administrada cinco anos após a primeira;
- A partir de 2 anos de idade já vacinados anteriormente com vacinas conjugadas (VPC10 ou VPC13): respeitar intervalo mínimo de dois meses em relação à última dose da vacina conjugada e aplicar a VPP23. Uma segunda dose deve ser administrada cinco anos após a primeira;
- Observação: Aqueles que iniciaram esquema com a VPP23 devem receber uma dose de VPC13, 12 meses após a VPP23.
Para mais informações, acesse os Calendários de vacinação SBIm - Pacientes Especiais (aqui) e o Manual dos CRIE (aqui).
Onde se vacinar
- VPC10:
- UBS e/ou CRIE: para menores de 5 anos de idade. As UBS oferecem duas doses da vacina. Caso o esquema recomendado seja de três doses, a terceira deverá ser recebida nos CRIE.
- VPC13:
- Serviços privados de vacinação.
- VPP23:
- CRIE: duas doses;
- Serviços privados de vacinação.
Acesse aqui a lista com os endereços e telefones dos CRIE. Caso não exista um na sua cidade, compareça à UBS mais próxima. Os profissionais poderão solicitar ao CRIE do estado ou região o envio da vacina.
Hepatite B
Esquema de doses
- Consultar calendários de vacinação SBIm para cada faixa etária;
- Nos estágios precoces da doença: três doses, com intervalos de um mês entre a primeira e a segunda, e de seis meses entre a primeira e a terceira;
- Nos casos de hepatopatia grave ou transplante hepático: quatro doses, com intervalos de um mês entre a primeira e a segunda; um mês entre a segunda e a terceira; e seis meses entre a primeira e a quarta (esquema 0-1-2-6 meses). O volume da dose deve ser o dobro do recomendado para a faixa etária;
- É necessário realizar exame Anti-HBs um a dois meses após a última dose, para avaliar se a resposta foi satisfatória e a pessoa está de fato protegida. Considera-se imunizado quando o Anti-HBs é igual ou superior a 10 mUI/mL. Se o resultado do anti-HBs for inferior a 10 mUI/mL, repetir o esquema vacinal uma única vez.
Onde se vacinar
- UBS: esquema de três doses para hepatopatas em estágio inicial e não imunodeprimidos;
- CRIE: esquema de quatro doses dobradas para hepatopatas graves, candidatos ou transplantados de fígado;
- Serviços privados de vacinação.
Acesse aqui a lista com os endereços e telefones dos CRIE. Caso não exista um na sua cidade, compareça à UBS mais próxima. Os profissionais poderão solicitar ao CRIE do estado ou região o envio da vacina.
Hepatite A
Esquema de doses
- Crianças a partir de 1 ano de idade: duas doses, idealmente aos 12 e 18 meses, ou em qualquer momento depois, respeitando o intervalo mínimo de seis meses entre as doses;
- Adolescentes e adultos suscetíveis não vacinados anteriormente: duas doses, com intervalo de seis meses.
Para mais informações, acesse os Calendários de vacinação SBIm - Pacientes Especiais (aqui) e o Manual dos CRIE (aqui).
Onde se vacinar
- UBS e/ou CRIE: A primeira dose está disponível nas UBS para menores de 5 anos. A segunda dose e a vacinação de pessoas mais velhas são feitas nos CRIE;
- Serviços privados de vacinação.
Acesse aqui a lista com os endereços e telefones dos CRIE. Caso não exista um na sua cidade, compareça à UBS mais próxima. Os profissionais poderão solicitar ao CRIE do estado ou região o envio da vacina.
Meningocócicas conjugadas (MenC ou ACWY)
Sempre que possível, preferir a vacina meningocócica conjugada ACWY, que previne mais tipos de meningococos.
Esquema de doses
- Consultar calendários de vacinação SBIm para cada faixa etária;
- Na vigência de imunodepressão ou em caso de transplantados ou candidatos a transplante, consultar o calendário específico;
- Atenção: os CRIE oferecem uma dose de reforço a cada cinco anos com a vacina MenC após o fim do esquema de doses básico para cada faixa etária. A SBIm recomenda na rotina doses de reforços com a vacina MenACWY — aos 5, 11 e 16 anos — ou com intervalos de cinco anos durante toda infância e adolescência.
Onde se vacinar
MenC:
- UBS: para menores de 5 anos;
- CRIE e serviços privados de vacinação.
- UBS: para adolescentes de 11 e 12 anos;
- Serviços privados de vacinação: para qualquer idade.
Acesse aqui a lista com os endereços e telefones dos CRIE. Caso não exista um na sua cidade, compareça à UBS mais próxima. Os profissionais poderão solicitar ao CRIE do estado ou região o envio da vacina.
Meningocócica B
Existem duas vacinas contra meningococo do sorogrupo B. Uma licenciada para pessoas de 2 meses a 50 anos de idade e outra para pessoas entre 10 e 25 anos de idade.
Esquema de doses
- Crianças e adolescentes: ver calendários de vacinação SBIm para cada faixa etária;
- Adultos: duas doses, com intervalo de um a dois meses. O uso acima da faixa etária de licenciamento é off label.
Onde se vacinar
- Serviços privados de vacinação.
Para mais informações, acesse os Calendários de vacinação SBIm - Pacientes Especiais (aqui).
Outras recomendações
As vacinas abaixo estão recomendadas de rotina. Para esquema de doses e onde se vacinar, acesse os calendários de vacinação SBIm para cada faixa etária.
- BCG
- Poliomielite inativada
- Rotavírus
- Haemophilus influenzae b (Hib)
- SCR e SCRV
- Varicela
- Febre Amarela
- Dupla do tipo adulto (dT)
- Tríplice bacteriana (DTPw ou DTPa) e suas combinações (combinadas à DTPa e tríplice bacteriana de células inteiras com Hib e hepatite B)
- Tríplice bacteriana do tipo adulto (dTpa) ou com poliomielite (dTpa-VIP)
- Herpes-zóster recombinante (VZR) inativada ou herpes-zóster atenuada
- HPV4
- Dengue
Importante: na presença de imunodepressão, as vacinas atenuadas BCG, VOP (poliomielite oral), rotavírus, tríplice viral (sarampo, caxumba, rubéola), tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola, varicela), varicela, febre amarela, herpes-zóster e dengue estão contraindicadas.
Em caso de transplante hepático, ver Calendário de vacinação SBIm para candidatos a transplante de órgãos sólidos ou transplantados.
Vacinacão de contatos domiciliares
A SBIm recomenda que todos os contatos domiciliares de pessoas com doenças crônicas de fígado estejam em dia com os calendários de vacinação SBIm para cada faixa etária.