Vacinação de crianças e adolescentes vivendo com HIV

Por que o cuidado especial?

As crianças e adolescentes que vivem com HIV apresentam risco elevado de infecções e complicações por diversas doenças, muitas preveníveis por vacinas. A imunização é, portanto, extremamente importante, mas requer alguns cuidados, de acordo com o grau de comprometimento imunológico de cada pessoa.

É necessário avaliar situações de precaução, contraindicações e o melhor momento para vacinar, uma vez que há chance de a resposta imunológica ser insuficiente ou inadequada. Quanto mais cedo a vacinação puder ser feita, melhor. Oportunidades não devem ser perdidas.

Vacinas vivas atenuadas estão contraindicadas quando há imunodeficiência clínica ou laboratorial grave. Nesses casos, sempre que possível, a aplicação deve ser adiada até que o tratamento permita um grau satisfatório de reconstrução do sistema de defesa do organismo. Dessa maneira, a vacinação será mais eficaz e haverá menos risco de reações pós-vacinais.

Além disso, a eficácia da vacinação pode variar de acordo com o tipo de vacina utilizado e/ou a condição imunológica do indivíduo, o que pode tornar necessária a adaptação do calendário vacinal e a adoção de esquemas de doses diferentes.

Particularidades para a vacinação

As crianças expostas ao HIV (nascidas de mães que vivem com o vírus), mas sem alterações imunológicas e/ou sinais e sintomas clínicos indicativos de imunodeficiência, devem receber as vacinas rotineiras do calendário da criança até os 18 meses de idade ou antes, se houver definição do diagnóstico de infecção pelo HIV no bebê. A única exceção é em relação à vacina poliomielite oral (VOP): é obrigatório o uso da vacina inativada durante todo o esquema. Consulte o Calendário de vacinação SBIm criança.

Se a infecção for confirmada – por meio de dois exames alterados de carga viral – os esquemas de vacinação serão adaptados de acordo com a idade, contagem de células CD4+, risco de infecção e situação imunológica no momento da vacinação. Saiba mais a seguir.

Vacinas especialmente recomendadas

Influenza (gripe)

A vacina influenza quadrivalente (4V) é preferível à vacina influenza trivalente (3V) por proteger contra mais tipos do vírus responsável pela doença. Na impossibilidade de uso da vacina 4V, utilizar a vacina 3V.

Esquema de doses

  • Para crianças que iniciam a vacinação entre 6 meses e 8 anos de idade: duas doses com intervalo de 30 dias e uma dose anual nos anos seguintes;
  • A partir de 9 anos: uma dose anual.
  • Devido à resposta imunológica inferior e menos duradora conferida pelas vacinas influenza em pacientes imunodeprimidos, a administração de uma dose extra a partir de três meses após a dose anual pode ser considerada em situação epidemiológica de risco;

Para mais informações, acesse os Calendários de vacinação SBIm – Pacientes Especiais (aqui) e o Manual dos CRIE (aqui).

Onde se vacinar

  • Vacina influenza trivalente (3V): UBS, CRIE e serviços privados de vacinação.
  • Vacina influenza quadrivalente (4V): serviços privados de vacinação.

Vacinas pneumocócicas conjugadas (VPC10 e VPC13) e polissacarídica (VPP23)

Para a proteção adequada de crianças e adolescentes vivendo com HIV, recomenda-se o esquema com dois tipos de vacinas pneumocócicas, complementares e não excludentes (esquema sequencial): iniciando preferencialmente com uma vacina conjugada (VPC10 ou VPC13), seguida da vacina polissacarídica (VPP23).

A SBIm recomenda o uso preferencial da VPC13 para ampliar a proteção para três sorotipos adicionais, principalmente em pessoas de alto risco para doença pneumocócica invasiva, como é o caso das crianças e adolescentes vivendo com HIV. Nas UBS e nos CRIE, a VPC10 é a vacina utilizada na rotina para crianças menores de 5 anos de idade, incluindo aquelas com comorbidades associadas a imunodepressão. Nos CRIE, a vacina VPC13 está disponível para crianças a partir de 5 anos que não foram vacinadas anteriormente.

A VPP23 está recomendada somente a partir dos 2 anos de idade, sempre em esquema complementar com as vacinas VPC10 ou VPC13.

Esquema de doses

O esquema depende da idade de início da vacinação:

Nas UBS e nos CRIE

  • Até completar 6 meses: três doses de VPC10, com intervalo de dois meses, e reforço no segundo ano de vida (esquema 3 + 1). As duas primeiras doses são oferecidas nas UBS, aos 2 e 4 meses, e a terceira nos CRIE, aos 6 meses, podendo ser feita até 11 meses e 29 dias. Uma dose de VPP23 deve ser administrada a partir dos 2 anos e uma segunda dose cinco anos após a primeira;
  • Entre 7 e 11 meses: duas doses de VPC10, com intervalo de dois meses, e um reforço no segundo ano de vida (esquema 2 + 1). Uma dose de VPP23 a partir dos 2 anos de idade e uma segunda dose cinco anos depois;
  • Entre 12 e 23 meses: duas doses de VPC10, com intervalo de dois meses, e uma dose de VPP23 dois meses depois. Uma segunda dose de VPP23 deve ser administrada cinco anos após a primeira;
  • Entre 2 e 4 anos de idade: uma dose de VPC10 e uma dose de VPP23 dois meses depois. Uma segunda dose de VPP23 deve ser administrada cinco anos após a primeira;
  • A partir de 5 anos de idade não vacinadas anteriormente com a VPC10: uma dose de VPC13, seguida por uma dose de VPP23 dois meses depois. Uma nova dose de VPP23 deve ser aplicada após cinco anos.

Recomendações da SBIm

A SBIm recomenda para crianças e adolescentes vivendo com HIV a vacinação com VPC13 em todas as faixas etárias, mesmo para os que já estão em dia com o calendário da VPC10. O número de doses e o intervalo dependem da idade de início da vacinação:

  • Até 6 meses: três doses de VPC13, com intervalo de dois meses, e um reforço no segundo ano de vida (esquema 3+1). Uma dose de VPP23 a partir dos 2 anos de idade e uma segunda dose cinco anos depois;
  • Entre 7 e 11 meses: duas doses de VPC13, com intervalo de dois meses, e um reforço no segundo ano de vida (esquema 2 + 1). Uma dose de VPP23 a partir dos 2 anos de idade e uma segunda dose cinco anos depois;
  • Entre 12 e 23 meses: duas doses de VPC13, com intervalo de dois meses, e uma dose de VPP23 a partir dos 24 meses de idade, pelo menos dois meses após a segunda VPC13. Uma nova dose de VPP23 deve ser administrada cinco anos após a primeira;
  • A partir de 2 anos de idade não vacinados anteriormente com a VPC13: uma dose de VPC13 e uma dose de VPP23 dois meses depois. Uma segunda dose de VPP23 deve ser administrada cinco anos após a primeira;
  • A partir de 2 anos de idade com esquema completo de VPC13: respeitar intervalo de dois meses em relação à última VPC13 e administrar uma dose de VPP23. Uma segunda dose de VPP23 deve ser aplicada cinco anos após a primeira;
  • Aqueles que iniciaram o esquema com a VPP23 devem receber uma dose de VPC13, 12 meses após a VPP23.

Para mais informações, acesse os Calendários de vacinação SBIm – Pacientes Especiais (aqui) e o Manual dos CRIE (aqui).

Onde se vacinar

  • VPC10:
    • UBS e/ou CRIE, para menores de 5 anos de idade. As UBS oferecem duas doses da vacina na rotina infantil. Caso o esquema recomendado seja de três doses, a terceira deverá ser recebida nos CRIE.
  • VPC13:
    • CRIE: para maiores de 5 anos de idade não vacinados anteriormente com a VPC10;
    • Serviços privados de vacinação.
  • VPP23:
    • CRIE: duas doses;
    • Serviços privados de vacinação.

Acesse aqui a lista com os endereços e telefones dos CRIE. Caso não exista um na sua cidade, compareça à UBS mais próxima. Os profissionais poderão solicitar ao CRIE do estado ou região o envio da vacina.

Haemophilus influenzae b (Hib)

A vacinação contra o Hib faz parte da rotina da população em geral somente para menores de 5 anos de idade, pois a chance de infecção a partir desta faixa-etária passa a ser baixa. No entanto, no caso de pessoas com HIV, o risco permanece.

Esquema de doses

O esquema depende da idade de início da vacinação:

  • Entre 2 e 6 meses: três doses, com dois meses de intervalo, e um reforço entre 15 e 18 meses de idade;
  • Entre 7 e 11 meses: duas doses, com dois meses de intervalo, e um reforço entre 15 e 18 meses de idade;
  • Crianças a partir de 1 ano de idade e adolescentes que não receberam reforço: uma dose;
  • Crianças a partir de 2 anos de idade e adolescentes não vacinados anteriormente: duas doses.

Para mais informações, acesse os Calendários de vacinação SBIm – Pacientes Especiais (aqui) e o Manual dos CRIE (aqui).

Onde se vacinar

Acesse aqui a lista com os endereços e telefones dos CRIE. Caso não exista um na sua cidade, compareça à UBS mais próxima. Os profissionais poderão solicitar ao CRIE do estado ou região o envio da vacina.

Hepatite A

Esquema de doses

  • Crianças: duas doses, idealmente aos 12 e 18 meses de idade, ou em qualquer momento depois, respeitando o intervalo mínimo de seis meses entre as doses.
  • Adolescentes e adultos não vacinados anteriormente: duas doses, com intervalo de seis meses.

Para mais informações, acesse os Calendários de vacinação SBIm – Pacientes Especiais (aqui) e o Manual dos CRIE (aqui).

Onde se vacinar

  • UBS e/ou CRIE: A primeira dose está disponível nas UBS para menores de 5 anos. A segunda dose e a vacinação de pessoas mais velhas são feitas nos CRIE;
  • Serviços privados de vacinação.

Acesse aqui a lista com os endereços e telefones dos CRIE. Caso não exista um na sua cidade, compareça à UBS mais próxima. Os profissionais poderão solicitar ao CRIE do estado ou região o envio da vacina.

Hepatite B

Esquema de doses

  • Crianças, adolescentes e adultos: quatro doses, com intervalos de um mês entre a primeira e a segunda; um mês entre a segunda e a terceira; e seis meses entre a primeira e a quarta (esquema 0 - 1 - 2 - 6 meses). O volume da dose deve ser o dobro do recomendado para a faixa etária.
  • É necessário realizar exame Anti-HBs um a dois meses após a última dose, para avaliar se a resposta foi satisfatória e a pessoa está de fato protegida. Considera-se imunizado quando o Anti-HBs é igual ou superior a 10 mUI/mL. Se o resultado do Anti-HBs for inferior a 10 mUI/mL, repetir o esquema vacinal de quatro doses com volume dobrado uma única vez.

Para mais informações, acesse os Calendários de vacinação SBIm – Pacientes Especiais (aqui) e o Manual dos CRIE (aqui).

Onde se vacinar

  • CRIE e serviços privados de vacinação;
  • Atenção: a vacina está disponível nas UBS, entretanto, deverá ser aplicada em esquema diferenciado para imunossuprimidos (quatro doses com volume dobrado) sob risco de resposta vacinal inferior ou até ausente.

Acesse aqui a lista com os endereços e telefones dos CRIE. Caso não exista um na sua cidade, compareça à UBS mais próxima. Os profissionais poderão solicitar ao CRIE do estado ou região o envio da vacina.

Meningocócicas conjugadas (MenC ou ACWY)

Sempre que possível, usar a vacina meningocócica conjugada ACWY, que oferece proteção contra mais tipos de meningococos.

Esquema de doses

  • Crianças menores de 1 ano: consulte o calendários de vacinação SBIm Criança;
  • Crianças entre 1 e 2 anos: uma ou duas doses, com intervalo de dois meses, a depender do fabricante da vacina. Reforços a cada cinco anos.
  • Crianças maiores de 2 anos e adolescentes não vacinados: duas doses, com intervalo de dois meses. Reforços a cada cinco anos.
  • Adolescentes vacinados: reforços a cada cinco anos.
  • Atenção: os CRIE oferecem uma dose de reforço a cada cinco anos com a vacina MenC após o fim do esquema de doses básico para cada faixa etária ao longo de toda a vida. A SBIm recomenda doses de reforços com a vacina MenACWY a cada cinco anos, ao longo de toda a vida.

Para mais informações, acesse os Calendários de vacinação SBIm – Pacientes Especiais (aqui) e o Manual dos CRIE (aqui).

Onde se vacinar

MenC

  • UBS: para menores de 5 anos;
  • CRIE: duas doses e doses de reforço a cada cinco anos;
  • Serviços privados de vacinação.

MenACWY

  • UBS ou CRIE: para adolescentes de 11 e 12 anos;
  • Serviços privados de vacinação.

Acesse aqui a lista com os endereços e telefones dos CRIE. Caso não exista um na sua cidade, compareça à UBS mais próxima. Os profissionais poderão solicitar ao CRIE do estado ou região o envio da vacina.

Meningocócica B

Existem duas vacinas contra meningococo do sorogrupo B. Uma licenciada para pessoas de 2 meses a 50 anos de idade e outra para pessoas entre 10 e 25 anos de idade.

Esquema de doses

  • Crianças e adolescentes: ver calendários de vacinação SBIm para cada faixa etária.

Para mais informações, acesse os Calendários de vacinação SBIm – Pacientes Especiais (aqui) e o Manual dos CRIE (aqui).

Onde se vacinar

  • Serviços privados de vacinação.

HPV4

Esquema de doses

  • Três doses, independentemente da idade, com intervalos de um a dois meses entre a primeira e a segunda doses e de seis meses entre a primeira e a terceira.

Para mais informações, acesse os Calendários de vacinação SBIm – Pacientes Especiais (aqui) e o Manual dos CRIE (aqui).

Onde se vacinar

  • UBS: duas doses, para adolescentes de 9 a 14 anos. A terceira dose está disponível nos CRIE;
  • CRIE: três doses para crianças e adolescentes a partir de 9 anos. Indivíduos que iniciaram a vacinação nas UBS podem encerrar o esquema nos CRIE, desde que dentro da faixa etária;
  • Serviços privados de vacinação.

Acesse aqui a lista com os endereços e telefones dos CRIE. Caso não exista um na sua cidade, compareça à UBS mais próxima. Os profissionais poderão solicitar ao CRIE do estado ou região o envio da vacina.

Pólio inativada (VIP)

A vacina pólio inativada (VIP) deve ser utilizada em todas as doses do esquema vacinal, uma vez que a vacina pólio oral (VOP) é contraindicada para pessoas que vivem com HIV e seus contatos domiciliares.

Esquema de doses

Para mais informações, acesse os Calendários de vacinação SBIm – Pacientes Especiais (aqui) e o Manual dos CRIE (aqui).

Onde se vacinar

Acesse aqui a lista com os endereços e telefones dos CRIE. Caso não exista um na sua cidade, compareça à UBS mais próxima. Os profissionais poderão solicitar ao CRIE do estado ou região o envio da vacina.

Outras recomendações

As vacinas abaixo estão recomendadas de rotina, sem restrições. Para esquema de doses e onde se vacinar, consulte os Calendários de vacinação SBIm para cada faixa etária.

As vacinas a seguir estão recomendadas de rotina, com restrições (ver “Precauções e contraindicações”). Para esquema de doses e onde se vacinar, consulte os calendários de vacinação SBIm para cada faixa etária.

As vacinas abaixo estão recomendadas de rotina, com restrições. Ver “Precauções e contraindicações”, a seguir:

Precauções e contraindicações

  • BCG: deve ser administrada ao nascimento ou o mais precocemente possível, até no máximo 5 anos de idade. Para as crianças que chegam aos serviços de saúde ainda não vacinadas, a vacina só deve ser indicada às assintomáticas e sem imunodepressão. A revacinação não é recomendada, mesmo para contatos domiciliares de pessoas com hanseníase.
  • Vacina dengue está contraindicada, mesmo para imunocompetentes.
  • Vacina tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola, varicela): não recomendada, mesmo para imunocompetentes, pois não há dados suficientes sobre eficácia em pessoas que vivem com HIV.
  • Vacinas tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), varicela e febre amarela: a recomendação ou contraindicação deve ser orientada pelo(a) médico(a), de acordo com o grau de imunossupressão (ver tabela):
    • Não imunocomprometidos: vacinar de acordo com calendários de vacinação SBIm para cada faixa etária.
    • Moderadamente imunocomprometidos: avaliar parâmetros clínicos e risco epidemiológico (surtos, contato com doente, viagem) para tomada de decisão.
    • Severamente imunocomprometido: contraindicada a vacinação.
Alteração ímunológicaContagem de LT CD4+ em células por mm3
Idade < 12 mesesIdade 1 a 5 anosIdade 6 a 12 anos
Ausente (1) > 1500 (> 25%) > 1000 (> 25%) ≥ 500 (≥ 25%)
Moderada (2) 750 - 1499 (15% - 24%) 500 - 999 (15% - 24%) 200 - 499 (15% - 24%)
Grave (3) < 750 (15%) < 500 (15%) < 200 (15%)

Vacinacão de contatos domiciliares

A SBIm recomenda que todos os contatos domiciliares de pessoas que vivem com HIV devem estar em dia com os calendários de vacinação SBIm para cada faixa etária.

Os contatos domiciliares destes pacientes podem receber nos CRIE as seguintes vacinas:

Acesse aqui a lista com os endereços e telefones dos CRIE. Caso não exista um na sua cidade, compareça à UBS mais próxima. Os profissionais poderão solicitar ao CRIE do estado ou região o envio da vacina.

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